Falo pouco.
Falo pouco e cada vez falo menos.
Em primeiro lugar porque me distraio e esqueço os assuntos das conversas e em segundo lugar porque as pessoas não esperam que lhes responda mas que as oiça, o que é fácil se acenar que sim de vez em quando e disser
- Pois claro
quando me olham de sobrancelhas levantadas à espera de concordância e aplauso. Tornei-me num especialista do
- Pois claro
que sei pronunciar pelo menos em vinte e três tons diferentes consoante o carranca e o ímpeto
(ou a falta dele)
do interlocutor, e se me interrogam com surpresa
- Pois claro o quê?
torço a boca num sorriso enigmático e subtilmente aprovador para que o outro, tranquilizado, desfaça as suas dúvidas, me aplique no ombro uma palmada satisfeita, assopre com alívio
- Logo vi que concordavas comigo
e se lance num relato sinuoso em cuja primeira curva me perco, continuando no entanto a murmurar pensando sei lá em quê
- Pois claro.
Não podia estar melhor explicado!
Do magnifico : António Lobo Antunes.